18 de nov. de 2011

Paulo Sant'ana:40 anos de Zero Hora

Sou fã do trabalho do jornalista Paulo Sant'ana, que hoje completa 40 anos no jornal Zero Hora.

Poxa, o cara começou a escrever muito antes do meu nascimento. Acho brilhante o que ele escreve. A escolha do tema do meu TCC foi inspirado nas crônicas dele.

A texto abaixo é de autoria Valacir Marques Gonçalvesescrita em homenagem ao Sant'ana, reproduzo aqui com a mesma intenção. Parabéns Sant'ana que teu trabalho sirva de exemplo para muitos outros jornalistas que como eu, estão buscando seu lugar ao sol.

Acompanho o Paulo Sant’Ana desde quando ele era mais singular ainda - o “Pablo” não existia... Lendo sua coluna, descobri que a última página de um jornal pode ser a mais nobre, a primeira que deve ser lida. Não trato os livros da mesma forma, mas confesso que a tentação é grande... Já, no cinema, é impossível iniciar pelo fim, mas a última cena precisa ser inesquecível. Quem não lembra “Quanto mais quente melhor”, quando o cara pediu a mão da amada e ela revelou um monte de defeitos, tentando fazê-lo desistir. Ele continuou insistindo. Sem alternativas, “ela” confessou: - Sou homem! A resposta encerrou o filme, e virou lenda: - Ninguém é perfeito!... Valeu o ingresso.

Voltando ao Sant’Ana: ninguém pode ter a pretensão de entendê-lo, assim, de repente. O personagem (que rivaliza com o homem) divide opiniões. Megalomaníaco confesso; se for comprado pelo que imagina que vale e vendido pelo o que acha que vale, enriquece o comerciante... Mesmo assim, não existe dúvida, ele tem um valor imenso. Com seus devaneios e “viagens”, ele faz parte de um mundo carente de personagens carismáticos, que ficam distantes do politicamente correto que engessa a vida e torna tudo previsível. Por isso, os males que o estão afligindo chamam atenção. Cada manifestação é um discurso, a emoção aumenta a cada dia. Com a saúde abalada, está preocupado. Um dos motivos: ninguém escreve a crônica que ele não pode escrever. Está na hora, ela precisa ser escrita.

Ela poderia ser iniciada lembrando o dia em que ele pediu a um motorista de táxi que o levasse até o morro mais alto de Porto Alegre. Lá, solicitou que ele voltasse no final da tarde para buscá-lo. O taxista ficou impressionado, não aguentou a curiosidade e perguntou por que ele queria ficar sozinho num lugar tão ermo. Ele respondeu, com toda a solenidade do mundo: - É pra ver como Porto Alegre consegue viver sem mim... Sant’Ana, depois de saber como Porto Alegre consegue viver sem ti por um dia, tu precisas saber o que acontecerá no dia em que isso acontecer para sempre...

Nesse dia, o futebol será o assunto de muitos. Lembrarão tuas sacadas, como a de que jogador ruim não pode ficar no banco, acaba entrando... Ou aquela de que no mundo capitalista só tem um tipo de jogador inegociável, o ruim - ninguém quer... Não vão esquecer o “Papai Noel” azul que levou uma surra no velho Eucaliptos. E também das bolas fora, quando tu disseste que goleiro que usa bigode não pode dar certo, ou quando saudaste, com entusiasmo, o “salvador” que veio de “Belém”, um centroavante de quase dois metros de altura que não jogava nada. Lembrarão que todos queriam saber o que tu dirias depois de um Gre-Nal, mesmo sabendo que exaltarias o tricolor na vitória, e farias as “denúncias” de sempre na derrota, quando o árbitro não era esquecido, nunca.

Vão dizer também que vai ser difícil colocar teu túmulo no centro do Parque Farroupilha para atender o pedido revelado numa entrevista, quando falaste que querias que construíssem um mausoléu para abrigar o teu corpo. Lembrarão que querias que ele fosse colocado entre o Mario Quintana e o Lupicínio; na tua opinião, as três maiores sensibilidades gaúchas... Alguns maldosos vão dizer que eles não concordarão. O Quintana não deve ter esquecido os cigarros que “roubastes” dele na madrugada em que estava sendo velado; o Lupi, com certeza, não vai perdoar tuas inesquecíveis “interpretações”...

Tuas lágrimas não serão esquecidas. Elas emocionaram muita gente quando, doente, teus colegas não entenderam que tu querias apenas um afago, um cafuné - a confirmação de que tu fazias falta. Lembrarão tua inconformidade quando disseste que não houve uma visita, um telefonema... Não guardaste rancor, embora tivesses dito, na hora, que descobriste que tinhas muitos colegas e poucos amigos... Ainda bem, tu entendeste; eles estavam contaminados por uma doença diferente da tua, que não poupa quase ninguém - a insensibilidade. Seguiste o conselho dos sábios que dizem que um homem não precisa de muitos amigos, que a quantidade deles deve ser a do número de alças do caixão que o levará para a última morada...

Sant’Ana, no dia em que Porto Alegre ficar sem ti, vão dizer que eras megalomaníaco até no amor - te amavas e eras correspondido... Por isso, teu ego precisa saber enquanto é tempo: farás falta para Porto Alegre. Tu és o cara que diz as coisas que ninguém espera, e também as que todos esperam. Sentirão tua falta. Quando não estiveres mais aqui, nos grandes jogos do tricolor, a cara de outro imortal vai estar presente, nem que seja enfeitando uma bandeira...

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